19 de out. de 2017

Apoio a governo militar no Brasil é maior que média global, diz pesquisa



ISABEL FLECK - A parcela de brasileiros que apoia pelo menos uma forma de governo "não democrática" e que mostra simpatia por militares no poder é maior do que a média global, segundo um levantamento realizado pelo americano Centro de Pesquisas Pew em 38 países e publicado nesta segunda (16).

Segundo a pesquisa, 23% dos entrevistados no Brasil dizem não gostar da democracia representativa e apoiam ao menos uma das três formas de governo: tecnocrático, militar ou com um "líder forte". Nos 38 países, a média é de 13%, com 23% que dizem descartar formas de governo "não democráticas".

Se contabilizados os brasileiros que consideram a democracia representativa "boa", mas também apoiam ao menos uma forma de governo "não democrática", a parcela do país que considera válido um regime militar, tecnocrático ou autoritário, sobe para 62%.

O levantamento foi feito entre fevereiro e maio com 41.593 pessoas nos 38 países de cinco continentes. No Brasil, foram entrevistadas 1.008 pessoas, pessoalmente, entre março e abril, com margem de erro de 4,7 pontos percentuais.

Quando a pergunta é feita especificamente sobre um governo militar, 38% dizem que a opção seria boa no Brasil, contra 55% que se opõem. Em todos os países, a média é de 24% de apoio a esse tipo de governo.

"O governo militar é uma das opções não democráticas mais populares no Brasil. O apoio a esse tipo de governo é um dos mais altos na América Latina e entre todos os países incluídos na pesquisa", afirmou à Folha Katie Simmons, diretora-assistente de pesquisas do Pew.

O índice do Brasil é semelhante ao de países como Senegal e Tanzânia e maior do que a média de 31% de apoio a governos militares na América Latina –onde foram considerados, além do Brasil, Argentina, Colômbia, México, Chile, Peru e Venezuela.

Em todo o mundo, a simpatia pela ideia dos militares no poder é maior entre quem tem um grau de escolaridade menor, com uma diferença que chega a até 23 pontos percentuais entre os dois grupos, como é o caso no Peru.

ESCOLARIDADE

No Brasil, 45% dos entrevistados que não tinham completado o Ensino Médio se disseram favoráveis a esse tipo de governo, enquanto o apoio entre os que tinham essa etapa completa é de 29%.

"Há também uma diferença de opinião sobre esse tema entre faixas etárias, o que não ocorre em muitos países. No Brasil, a geração mais velha tende a ver um governo militar de forma mais positiva", destaca Simmons.

Apesar de mais de um terço dos brasileiros entrevistados se dizer favorável a um governo militar, 63% afirmam ser "ruim ou muito ruim" um governo autocrático. A média de todos os países é ainda mais alta: 71%, com os países europeus puxando o número, com 86% reprovando, em média, esse tipo de modelo.

Segundo Simmons, no Brasil, a visão negativa em relação à democracia representativa é, em grande parte, uma resposta à insatisfação com a forma como Executivo e Legislativo funcionam hoje no país.

DEMOCRACIA

Em 2013, o Pew havia feito, em outra pesquisa, uma pergunta sobre a democracia no país, e 66% dos brasileiros entrevistados se diziam satisfeitos com o sistema –contra 28% hoje.

"Vimos na América Latina um apoio muito menor à democracia representativa, e no Brasil também. Em alguns casos, essa avaliação está atrelada a questões econômicas, mas, no Brasil, ela é mais uma resposta ao sistema democrático vigente", disse a pesquisadora do Pew à Folha.

Os números refletem a insatisfação no Brasil com o sistema atual. Segundo o levantamento, 33% dos brasileiros avaliam como "ruim" a democracia representativa e só 8% a consideram "muito boa". A rejeição é maior do que em todos os seis países africanos, os dez europeus e os seis asiáticos incluídos na pesquisa.

O Brasil também apresentou um dos mais baixos índices de confiança de que o governo federal faz "o que é certo para o país": 2% disseram acreditar "muito" nisso, 22% afirmam acreditar em parte. Até na Venezuela os entrevistados se mostraram mais confiantes: 29% declararam confiar no governo, com 14% deles dizendo confiar muito.

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