15 de jun. de 2013

MANIFESTANTES PLANEJAM AMPLIAR AÇÕES NA COPA DAS CONFEDERAÇÕES

Protesto de sexta-feira  ocorreu diante do estádio  Mané Garrincha, em Brasília
 João Fellet/Da BBC Brasil, em Brasília

Motivados pela grande repercussão do protesto contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô em São Paulo na quinta-feira, movimentos contrários às obras para a Copa do Mundo de 2014 pretendem aproveitar o início da Copa das Confederações, neste fim de semana, para realizar uma série de manifestações e dar mais visibilidade às suas demandas.

O Comitê Popular da Copa, grupo que tem entre suas principais bandeiras o fim das remoções de moradores para obras do Mundial, vem realizando desde a quarta-feira ações nas 12 cidades que sediarão jogos do torneio. Uma delas ocorreu nesta sexta em Brasília, quando cerca de 300 manifestantes bloquearam uma via no centro da cidade com pneus em chamas.

Alguns cartazes levados pelos manifestantes faziam referências às manifestações do Movimento Passe Livre, tido como o principal articulador dos protestos contra o aumento das passagens em São Paulo.

Outro protesto está marcado para o sábado perto do estádio Mané Garrincha, em Brasília, que às 16h receberá o primeiro jogo da Copa das Confederações, entre Brasil e Japão. Nesta sexta, também houve protestos em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, o comitê promoverá, no sábado, jogos de futebol para divulgar suas bandeiras.

Abertura da Copa
Em Brasília, os manifestantes começarão a se reunir por volta das 11h na rodoviária do Plano Piloto, segundo Edson Silva, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que também participará do protesto. A rodoviária fica no Eixo Monumental, mesma via que o Mané Garrincha, e está a poucos quilômetros do novo estádio.

Formatos alternativos
"Vamos usar a Copa (das Confederações) para divulgar a nossa causa", afirma Edson.
Pelo Facebook, estudantes brasilienses buscavam adesões ao protesto. Mais de 7 mil confirmaram presença no evento pela rede virtual.

Silva disse que o grupo decidirá na hora se tentará bloquear o acesso de torcedores ao estádio.

Nesta sexta, uma hora após fecharem o Eixo Monumental, os manifestantes seguiram em passeata para o Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal.

Segundo Silva, entre as reivindicações do movimento estão a exigência de que a Companhia Energética de Brasília (CEB) suspenda o corte de luz a 59 famílias acampadas na cidade vizinha de Planaltina e que a Terracap, estatal imobiliária, deixe de vender terras públicas até que se zere a demanda por residências no Distrito Federal.

O grupo cobra ainda a construção de 150 mil moradias populares no Distrito Federal nos próximos dois anos, o combate à exploração sexual na Copa e a realização de campanhas de proteção aos direitos das crianças e adolescentes nas cidades que sediarão o evento. As demandas, diz Silva, buscam fazer com que a competição também beneficie brasileiros pobres.

"A Copa é para quem? Nós, famílias de sem-teto, não vamos conseguir assistir aos jogos, porque os ingressos são todos caros. Esta Copa não é do povo, esta Copa é dos ricos, é da Fifa", afirma Silva.
Membro do Comitê Popular da Copa no Rio, o pesquisador Gustavo Mehl diz que "há canais abertos" para uma articulação entre o movimento e os militantes do transporte público. "Certas ações unificadas durante a Copa das Confederações certamente vão acontecer, não só no Rio mas em outras cidades", ele diz à BBC Brasil.

Segundo Mehl, a inflamação gerada pela manifestações contra o aumento nas passagens "fortalece todo um campo, uma luta que é integrada por vários setores descontentes". "Não temos espaço de consulta e participação popular nas grandes cidades num momento em que grandes intervenções urbanas estão sendo feitas com a falsa justificativa de serem para a Copa e as Olimpíadas."

Ele diz que o aumento das passagens foi o estopim de um crescente descontentamento de moradores das cidades com o aumento do custo de vida e a ausência de melhorias urbanas.
Membro do Movimento Passe Livre, o professor de história Lucas Monteiro, de 29 anos, diz que o grupo também simpatiza com as manifestações do Comitê Popular da Copa.

"Entendemos que tanto as remoções quanto o aumento de tarifas são eventos que não levam em consideração os habitantes das cidades e seus direitos, mas sim interesses empresariais."

Ainda que São Paulo não vá receber partidas da Copa das Confederações, Monteiro diz esperar que o evento dê maior repercussão internacional aos próximos protestos do grupo. "Infelizmente, nossos governantes se sentem mais pressionados pela opinião pública internacional do que pelas vontades populares das nossas próprias cidades".
O grupo convocou novo protesto em São Paulo para a segunda-feira. Cerca de 100 mil pessoas confirmaram presença no evento pelo Facebook.

Ações no Rio
No Rio de Janeiro, o Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas organizará neste sábado a Copa Popular Contra as Remoções, que vai reunir moradores de comunidades ameaçadas ou que sofreram remoções para um campeonato de futebol na região da Gamboa, zona portuária.

"Sempre foi um desejo nosso reunir essas comunidades de atingidos em um grande evento conjunto, e a gente achou que fazer isso através do futebol no dia de início da Copa das Confederações seria uma boa oportunidade", afirma Renato Cosentino, porta-voz do comitê e pesquisador da organização de direitos humanos Justiça Global.

Segundo Cosentino, o evento tem o objetivo de chamar a atenção para as remoções de moradores devido a obras relacionadas à Copa do Mundo e à Olimpíada de 2016, além de servir para que essas diversas comunidades atingidas se articulem e dividam experiências.

De acordo com dados catalogados pelo comitê por meio de notícias de jornais e relatos de lideranças comunitárias, 11 mil pessoas teriam sido obrigadas a deixar suas casas na cidade do Rio de Janeiro devido a obras relacionadas aos grandes eventos esportivos. Outras 29 mil ainda correriam risco de remoção.

De acordo com Cosentino, além do evento de sábado, o comitê planeja outras manifestações nas próximas semanas.

Relatora da ONU para o Direito à Moradia Adequada, a professora brasileira Raquel Rolnik diz que tem recebido denúncias de remoções executadas em desacordo com os padrões internacionais de respeito aos direitos humanos.

"É possível perceber a continuação de um padrão de falta de transparência, consulta, diálogo, negociação justa e participação das comunidades atingidas", ela afirma à BBC Brasil.

Rolnik diz considerar preocupantes os valores pagos para indenizar as famílias removidas, agravados pela valorização imobiliária nas áreas onde ocorrem obras dos megaeventos.
"Estas indenizações insuficientes podem ter como consequência a formação de novas favelas e a existência de mais famílias sem teto".

A relatora da ONU cobra a criação de regras nacionais que regulem as remoções, passo que diz ser fundamental para que o país siga normas internacionais ao se preparar para os eventos esportivos.

Colaboraram Caio Quero e Rogerio Wassermann, no Rio de Janeiro e em Brasília.

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