17 de out. de 2011

TRIBUTO AO PASSADO - TRANSPORTE NO AMAZONAS

Foto de Navios a vapor (1)
Viagens e Negócios - “Os rios são as estradas no Amazonas”. Esta frase pode ser atribuída a vários estudiosos e conhecedores da região amazônica, como Samuel Benchimol. De fato, na região detentora da maior concentração de água doce do planeta, os rios são as estradas para o transporte entre as cidades.

As cidades localizadas no percurso de uma estrada, surgem, via de regra, a partir da construção da estrada. O transporte oferecido pela estrada proporciona o crescimento daquela localidade, que originalmente era uma vila, ou até mesmo pequeno povoado.

No caso dos rios, a relação com a cidade é um pouco diferente. Como não surgem rios de uma hora para outra, são as cidades que surgem às margens dos rios, desde que estes sejam navegáveis e tenham rotas regulares que possibilitem acesso a outros lugares.

A navegação nos rios do Amazonas, da forma que conhecemos hoje, teve origem com o ciclo da borracha, no final do século XIX. Devido ao volume gigantesco da produção de borracha e a importância econômica do produto tanto para o Amazonas como para o Brasil, o governo federal aplicou política de subvenção à navegação fluvial, que beneficiava os donos de embarcações que mantivessem rotas por toda a região amazônica. Os empresários ganhavam os vultosos benefícios e ainda ganhavam pela cobrança de passagens e pelo frete de mercadorias.

As rotas partiam de Manaus, no Amazonas e de Belém, no Pará, e avançavam por todo o Amazonas, indo ao extremo do Estado, como Eirunepé, no rio Juruá (ou além, como Cruzeiro do Sul, no Acre); Boca do Acre, no Rio Purus; Humaitá, no Rio Madeira; e Tabatinga no Rio Solimões.

Essa extensa rota exigia das embarcações a vapor, várias paradas durante a viagem para abastecimento da lenha, o combustível das caldeiras. Nas paradas das embarcações, a tripulação adentrava a mata em busca de madeiras que servissem de lenha. Eles próprios derrubavam as árvores, cortavam e transportavam em forma de lenha para o navio. A partir dessa atividade, surgiram portos de lenha, que ofereciam a madeira beneficiada, não havendo mais necessidade de a tripulação executar o trabalho, ao mesmo tempo gerando alguma riqueza para aquela localidade.

Os portos de lenha originaram várias cidades às margens dos rios. Ainda hoje é comum presenciarmos pequenas comunidades rurais em toda a extensão dos rios, resultado de uma atividade econômica principal, basicamente pequenas plantações de banana, mandioca e pesca artesanal.
Material publicitário do ano de 1911 (2)
As rotas criadas para o escoamento da produção de borracha não propiciaram somente o surgimento de vilas e cidades, mas também incentivaram a sua própria continuidade. Com o colapso da atividade da borracha, as rotas, que existiam somente em função de subsídios governamentais (e que não eram pouco), foram continuadas pela livre concorrência da iniciativa privada: algumas das embarcações das rotas da borracha, originalmente de propriedades de grupos transnacionais (maioria americanos), foram adquiridas por empresários brasileiros que acumularam riqueza em outra atividade econômica e viram o surgimento de uma atividade bastante rentável na região, uma vez que o transporte fluvial não estava limitado apenas ao transporte de pessoas e mercadorias, mas também poderia ser utilizado no desenvolvido do comércio ribeirinho através da atividade de ‘regatão’, existente até hoje, embora em menor dimensão.

A atividade de regatão consiste, basicamente, em transportar produtos da capital para ser comercializado nas comunidades e cidades do interior, e ao mesmo tempo a mesma embarcação compra a produção dos ribeirinhos e transporta para ser comercializada na capital. No inicio dessa atividade, os produtos eram bastante diversificados como tartarugas, tracajás (e seus ovos), peixe boi, mixira, pirarucu, pele de onça e de jacaré, e demais produtos da floresta. Devido ao surgimento de rigorosa legislação ambiental, logo depois de muitos animais e diversos tipos de madeira entrarem em extinção (como o peixe boi, tartaruga, e madeiras como cedro, mogno e outras), o comércio desses produtos passou a ser considerado crime e o tráfico incide nas punições previstas em lei. Essa fiscalização é uma das atribuições do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMbio), instituição ligada ao IBAMA e Ministério do Meio Ambiente.

Ao mesmo tempo, embarcações de menor porte foram construídas no estilo amazônico, ou seja, de madeira. Essas embarcações passaram a realizar viagens não tão longas como as realizadas pelos navios, mas contemplando, às vezes, a metade do percurso.

Na medida em que o transporte fluvial avançava para as mãos da iniciativa privada local, outras modalidades passaram a existir, mesmo que precariamente: o transporte rodoviário e aéreo.

Mas esses são temas para os próximos artigos sobre o transporte no Amazonas.

Origem das Fotos e imagem:
(1) e (2) - Do livro "Navegação e Transporte na Amazônia" de Samuel Benchimol - 1995
(3) - Do blog http://www.pedromartinelli.com.br/blog/?p=243

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