23 de mai. de 2010

TRATORZINHO ENTRA NO CENÁRIO AMAZÔNICO PARA EVITAR O FOGO NA FLORESTA




Dirigentes do STR e de associações cumprimentarem o deputado e o prefeito pela conquista que poderá mudar uma prática secular.


MONTEZUMA CRUZ
Amazônias

ACRELÂNDIA, Acre — Sete dos 122 microtratores que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) começou a pôr em operação nos 22 municípios acreanos vieram sábado para este município próximo à BR-364, situado a 90 quilômetros de Rio Branco.
Pequenos produtores daqui trocarão a enxada, o facão e a foice pelo microtrator, que desempenha a força de trabalho de 18 homens e mecaniza até um hectare por dia.
São rígidas as normas do Ministério Público no Estado para a eliminação das queimadas nesta parte da Amazônia Ocidental. Mas começam a surgir alternativas capazes de combater o fogo, graças à conscientização que pode ser levada ao campo por meio da extensão rural. Ela é o segredo da difusão de novas tecnologias adotadas especialmente para a agricultura familiar.
Uma das saídas encontradas foi o uso do trator gigante conhecido por tritucap (há só três no Brasil) e de tratorzinhos. O primeiro derruba capoeiras com idade acima de cinco anos, o segundo, mecaniza o solo. Quem não conhece, se assusta com o tritucap, até ficar sabendo que sua função se diferencia daquela usado nos anos 1970 para pôr abaixo a floresta na abertura da BR-230, a rodovia Transamazônica.
Novidades levadas na porta
Esses equipamentos desembarcaram do Acre graças a uma emenda individual feita pelo deputado Fernando Melo (PT-AC) ao Orçamento Geral da União. No sábado chegou também o caminhão-baú batizado de Nutec Móvel, para levar ao interior acreano técnicas de plantio, manejo, colheita e diversificação agrícola.
Nutec é a sigla do Núcleo Móvel de Transferência de Tecnologias Agroindustriais. Os investimentos somam pouco mais de R$ 6 milhões. A montagem e os equipamentos do caminhão do Nutec ficaram em R$ 544 mil.
— Funciona bem no Baixo Tocantins e no Nordeste do Pará, e pode dar certo aqui também, onde o fogo é uma prática secular — diz otimista o parlamentar. Desde meados de maio, ele acompanha a entrega das máquinas por todo o estado. No discurso ambientalista e de apoio aos pequenos produtores, Melo sempre lembra que o Acre possui 88% de suas florestas nativas conservadas.
No final da semana, o chefe adjunto de Negócios da Embrapa-AC, Francisco de Assis Correa, ouviu aplausos aos pesquisadores. Por uma razão muito simples: pressionados pelas normas anti-fogo em vigor no estado, eles não dispunham de meios para enfrentar o desafio.
— Dos 40 tratores de pneu existentes em Acrelândia, dois pertencem à prefeitura, cinco ao estado e a maioria a proprietários rurais endinheirados — constatou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Francisco Eugênio.
O que sobraria para os pequenos derrubarem capoeiras, mecanizar o solo e evitar o fogo em matas nativas? — questionava-se até a chegada dos microtratores. Segundo Eugênio, a peleja dos produtores para obter tratores dura sete anos.
O prefeito Carlos César Nunes Araújo (PSB) e o secretário municipal de Agricultura, Francisco de Lima ouviam ladainhas de queixas, desde 2009, a partir do vigoramento de uma portaria do Ministério Público, proibindo a queima.


Pode ser o fim da queimada: microtrator recebido em Acrelândia executa até um hectare/dia de lavoura

— Com a maior parte dos tratores em mãos de particulares, realmente ficaria difícil lançar essa idéia do deputado Fernando Melo. Vejo agora que a Embrapa se volta para os pequenos — comentou o prefeito.

Aprendizado começa em junho

ACRELÂNDIA e RIO BRANCO — O pelotão de socorro aos quase ex-incendiários chegará reforçado a Acrelândia, com a participação de pesquisadores da Embrapa, dos extensionistas rurais da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, do Instituto do Meio Ambiente do Acre e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural.
Em junho próximo, durante três dias, grupos de 15 produtores aprenderão técnicas de manejo e vão operar os microtratores.
— Em 34 anos de atividades no Acre, a Embrapa pesquisou e pesquisa muito, mas este momento é especial para nossas equipes, porque estamos dirigindo também o nosso foco para pequenos e médios produtores — lembra Francisco Correa.
Um dia antes de os produtores receberem os microtratores, neste município, o presidente da Embrapa, Pedro Arraes, anunciou a extensão da pesquisa para todo o Acre. Arraes foi a Rio Branco para inaugurar, com o chefe da Embrapa-AC, Judson Valentim, o Centro de Atendimento ao Cidadão (CAC).
Obra financiada pelo Programa de Fortalecimento e Crescimento da Embrapa, o CAC abriga o serviço de recepção e triagem dos diversos públicos da empresa, e ainda, o Nutec, a sala de memória e a vitrine de tecnologias. M.C.)

“Tradição virá pelo hábito”
ACRELÂNDIA — A prefeitura cobrará R$ 75 pela hora do trator-esteira, na complementação do manejo feito pelo tritucap e o tratorzinho. Uma hora do trator-pneu terá um custo de R$ 45. Segundo o prefeito Carlos Araújo, essa tabela é acessível a todos.
— Nossa tradição em melhorar a pequena agricultura virá pelo hábito — previu Araújo. Ele elogiou o deputado Fernando Melo por ter apresentado, pelo terceiro ano consecutivo, emendas para o setor produtivo.

Reunidos no mercado municipal, agricultores conheceram a programação da Embrapa para modernizar o campo.

No sábado, o presidente da Embrapa, Pedro Arraes, considerou impossível a empresa atuar nos duzentos pontos de extensão rural espalhados pelo Acre, mas destacou que a sua relação com os municípios será “mais umbilical ainda”.
A empresa vem somando suas pesquisas à possibilidade de o próprio estado (via secretarias), a Universidade Federal do Acre, e outros órgãos públicos promoverem a extensão rural. Arraes considerou um crime a existência de projetos de planejamento rural concebidos sem que nunca os representantes do planejamento feito por particulares tenham visitado as propriedades.
Desde o início de 2010, a Embrapa-AC vem atuando nos 22 municípios acreanos. Em Acrelândia, por exemplo, está fornecendo 20 toneladas de calcário, mudas de café, banana e mandioca resistentes a pragas e melhorando a pecuária leiteira. (M.C.)









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